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Lembro… Palavras que servem para descrever emoções até conhecê-la não faziam parte do meu cotidiano, senão pelo encontro casual durante a leitura de alguma revista ou dicionário. Sentir? Algo relegado a um passado distante. Grandes paixões eram como cicatrizes de crianças hiperativas, marcas de infância saudável, mas ainda assim enterradas em dias antigos. Quando maduro criei um império em meio às cinzas do mundo, e em meio às cinzas de minha antiga personalidade.
Mas a desgraça dos homens que como eu, ocupam o trono de algum Mundo abaixo do Céu é justamente essa; reviver o desespero daqueles que se encontravam no ponto mais alto da Torre de Babel. Digo isso com a expriência de um ancião porque, apenas um mês depois de conhecer você, eu senti Medo.
Cada célula de minha fisologia na verdade temia sua perda, em especial as que constituem meus olhos. Eu temia não ver a perfeição de suas formas dando pinceladas de algo especial aos meus antes ordinários lençóis, senti pavor ante a constatação de como seria meu mundo sem que você estivesse presente para satisfazer, com tanto deleite, meus gostos e vulgaridades – no mundo exterior e na cama – com um sorriso no rosto, tive medo de não ser mais dono, um dia, do coração que batia por trás das curvas divinas de seu corpo.
Eu já não tinha limites antes de você, mas minha visão alcançava pontos cegos contigo por perto, e não sabia quando meu fôlego iria ultrapassar tanto o ápice que de uma vez por todas cessaria. Acreditei que a epítome da Paixão era o Medo por algum tempo. Eu, que em meu meio sou a própria forma física do Poder, sucumbia célere ante a força de minha própria Luxúria – culpa sua. Um tolo somente poderia pontuar que os grandes são vencidos apenas por algo de dentro de si, mas a urgência que brotava em meu peito para alcançar de novo a Liberdade e Autonomia sobre minha Vida não me permitia Orgulhos tolos. Beijei seus ombros enquanto dormia, saí para caminhar e quem sabe recuperar ao menos um pouco do ar em meus pulmões…
…Ao retornar te vi assim. Tal qual gato em cima de minha mesa, brincando com os limões como se fossem novelos de lã.
Alguns homens dariam a Vida, posses, poderes, somente para saborear a ínfima quantia de saliva entre seus lábios e a casca cítrica dessas frutas. Percebi, de uma vez por todas, que não há diálogo com a Razão enquanto você respira o ar no mesmo cômodo que Eu. Descobri tardio, que Liberdade e Autonomia eram palavras que não existiriam contigo por perto; não em letra maiúscula, pelo menos. Descobri todas essas coias, aceitei todas essas verdades e invejei mortalmente os limões por alguns segundos… Depois me juntei a eles.
Me conformo em ser Babel, se for você o Deus a me fulminar.
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Foto cedida pelo Bella da Semana, modelo Juliana Costa