Sakuras & Cascalho.

 

Mesmo que um lobo veja as sakuras,
Na primeira Primavera em que seus sentidos estão aguçados,
Na Primavera em que deixa de ser filhote,
Ainda assim, nem todo seu fascínio impedirá o girar
Das estações,
Que traz consigo, a fase em que a cerejeira estará nua.
Assim decretado por uma dança maior e mais antiga
Do que a natureza senciente dos homens, lobos e demais seres,
Tudo é mais Estar do que Ser.
Observada a Lei – belíssima regente, desde o botão às pétalas esvoaçantes,
Admiro que por tanto Tempo – este ilusório artifício dos deuses –
Por tanto Tempo me deixei levar pelos extremos…
Fui inimigo do Sol,
Por que seu afago causticante demanda minha tolerância,
Ao derramar calor e luz pela Existência e sobre mim…
Fui amante quase lascivo do Inverno,
Pois o cinza que ele despeja
Sobre a Vida é a mim mais aprazível –
Ao beijar minha pele e o Mundo, durante seu reinado…
E por tanto criar partidos, e tomar lados,
Pelo exercício constante de me fixar
A somente um lado de cada Estrada
Percebi que não fiquei a par da beleza no conteúdo,
Que existia no cascalho existente
Bem no Meio do Caminho.
E assim como o lobo em sua primeira Primavera de sentidos aguçados,
Primavera em que deixa de ser filhote,
Assim como ele pereceria,
Se permanecesse para sempre a observar as sakuras,
Percebi, que de certa forma
Eu mesmo pereceria caso ignorasse o cascalho
Que forra o Meio da Estrada…